A
parábola contada por Jesus do “filho pródigo” ilustra muito bem a intenção de
Jesus em apresentar as pessoas da Galileia, a
figura de um Deus como
um “Pai Bom”. “Um Pai que não pensa na própria herança”. Que respeita as
decisões dos filhos. Não se ofende quando um deles o considera “morto” e lhe
pede a parte da herança. Com tristeza, Ele o vê partir de casa, mas nunca o
esquece. Aquele filho poderá voltar para a casa sem temor algum. Quando um dia
o vê chegar faminto e humilhado, o Pai “se comove”, perde o controle
e corre ao encontro do filho. Este Pai esquece a sua dignidade de “senhor”
da família e o abraça e beija efusivamente como uma mãe. Interrompe a confissão
do filho para poupar-lhe mais humilhações. Ele já sofreu bastante” (PAGOLA,
2012, p. 256).
O que chama atenção
nesta parábola e o desejo do Pai com a felicidade de seus filhos, desejo
expressado quando o Pai faz pouca conta de sua herança, de não privar o seu
filho de viver a sua liberdade, abrindo mão até mesmo de sua paternidade, com
um detalhe fundamental, não esquecendo o amor que sente por esse seu filho. “O
Pai a cada manhã estará esperando por seu filho”.
A sociedade atual tem
se afastado cada vez mais de “Deus Pai”,de sua presença e de sua lembrança. A
parábola mostra que os filhos da sociedade atual podem afastar-se desta
convivência com o Pai, ainda que nesta condição de afastamento, Ele acompanha a
humanidade mesmo que o percam de vista. Acontece que a perda desta convivência
tem gerado em muitos o “vazio existencial”, por que não é fácil o caminho da
liberdade. E a fome de amor, de sentido para esta realidade e um sentido para a
“vida futura” pode sinalizar como sendo o primeiro sinal do afastamento de
Deus. Uma vida sem sentido, sem Deus e sem perspectiva futura, leva muitos a
“cair em si mesmo”.“Eu aqui morro de fome e na casa de meu Pai é só fartura.
Vou voltar e dizer, pequei...” (Lc15, 17-18).
Deste
modo, acolher na
comunidade igreja cada jovem afastado é colocar em prática o que fez o Pai na
parábola com o filho, fazendo-o participar da festa da vida e da alegria. A CF
2013, nº 244, convida a toda igreja “a uma conversão pastoral”, porque pode
acontecer que na prática pastoral, tenhamos as atitudes do “filho mais velho”
que se acha no direito de ter tudo de melhor do que os irmãos mais jovens que
iniciam a vida da fé. Pode acontecer de termos “raiva, desprezo, orgulho,
acusação e fechamento de nós mesmos, quando vemos tanta criatividade de jovens
trabalhando em nossas paróquias”. Assim afirma o texto base da CF 2013:
“É urgente que a evangelização chegue aos jovens. Eles são
alguns dos “novos pátios” que se expandem cada vez mais e nos estimulam a uma
nova aproximação e uma nova evangelização. Caso contrário, os grupos e seus
jovens abandonam os espaços eclesiais ou criam os seus mundos isolados, à parte
de qualquer acompanhamento. Certamente o afastamento da vivência eclesial,
violências, mortes, e exclusões ocorrem, porque nossas pastorais e organizações
não abrem suas portas para acolher a realidade e a cultura dos jovens, entender
a linguagem deles, cuidar do seu processo de amadurecimento, curar-lhes as
feridas” (MANUAL CF 2013, p. 244).
Aprendamos
desta parábola alição de que somos Filhos
do mesmo Pai, Jovens (filhos mais novos) ou ordenados, leigos engajados e fiéis
em geral (filhos mais velhos de nossas paróquias e Diocese), e que não basta
estar com o pai todo o dia, como “filho mais velho”, “se não aprendemos a AMAR
nosso irmão”.
Logo,
“Envoltos
na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e não
crentes, de praticantes e afastados da igreja, de matrimônios abençoados pela
igreja e casais em situação irregular... enquanto nós continuamos classificando
seus filhos e filhas, Deus continua nos esperando a todos, pois não é
propriedade apenas dos bons e dos praticantes. Ele e Pai de todos” (PAGOLA, 2012, p. 261).
Neste
tempo de conversão,
mudança de mentalidade e atitudes, fica o apelo da CF 2013, de fazer uma
“conversão pastoral” na Igreja, acolhendo não só os jovens, mas todos
aqueles(as) que por motivos específicos, pediram à parte que lhes cabe na
herança do reino ou que quiseram por iniciativa própria viver a sua liberdade. Olhando para o “Pai
bom” aprendemos a acolher melhor a todos, os filhos de “casa” e os filhos
dispersos.
Padre Clayton Nogueira