A adoção é um processo delicado do ponto de vista psicológico, tanto
para o filho quanto para os pais. Por trás de toda adoção existe uma falta que
remete a uma ferida psíquica. Ambos têm de lidar com uma falta.
As longas tramitações para que a adoção se concretize do ponto de vista
jurídico, oferecem uma oportunidade que esse período seja vivido pelos pais
como uma verdadeira gestação. Eles estão
grávidos, de um filho que vai nascer. Assim como os pais naturais não conhecem
o filho antes que ele nasça, também os pais adotivos não o conhecem até que
seja apresentado pelo juizado de menores. O vínculo que se estabelece nesse
momento com o filho que vai entrar na vida deles é fundamental.
Contar para o filho adotivo a história de sua chegada pode ser um
momento tão encantado como é quando os pais contam ao filho o quanto ele foi
desejado. Pena que muitos pais não o façam. Quando essa ferida é ocultada por
muitos anos, ficará mais difícil para o filho adotivo lidar com ela. A
ocultação revela, em primeiro lugar, a ferida dos pais, mostrando que eles não
souberam lidar com ela.
Uma revelação desse tipo na idade adulta costuma ser traumática. A
situação piora para quem casualmente descobre ser filho adotivo. É como se toda
a história de vida fosse
envolvida por uma mentira. Uma dúvida passa a pairar
sobre tudo o que é significativo na sua vida. Mesmo tarde, é sempre melhor que
os pais contem a verdade. Embora isso acarrete algum sofrimento, será um alívio
para todos. Nada melhor do que mostrar que a adoção foi desejada e motivo de
felicidade para os pais. Geralmente, o motivo para se ocultar a adoção é o medo
de que o filho procure os pais naturais. Trata-se de uma curiosidade legítima á
prejudicar o afeto que o filho sente pelos pais adotivos. Talvez o encontro com
os pais naturais seja até necessário para superar o sentimento de rejeição que
possa existir, apesar do amor dos pais adotivos.
Conhecer os pais naturais poderão, de fato, elaborar as fantasias (que,
como toda fantasia são extremamente reais do ponto de vista psíquico) de rejeição.
ROBERTO GIROLA
(PSICANALISTA TERAPEUTA FAMILIAR)
REVISTA DE APARECIDA -
DEZ/2012