sábado, 12 de julho de 2014

Quando falar sobre a adoção?

A adoção é um processo delicado do ponto de vista psicológico, tanto para o filho quanto para os pais. Por trás de toda adoção existe uma falta que remete a uma ferida psíquica. Ambos têm de lidar com uma falta.


As longas tramitações para que a adoção se concretize do ponto de vista jurídico, oferecem uma oportunidade que esse período seja vivido pelos pais como uma verdadeira  gestação. Eles estão grávidos, de um filho que vai nascer. Assim como os pais naturais não conhecem o filho antes que ele nasça, também os pais adotivos não o conhecem até que seja apresentado pelo juizado de menores. O vínculo que se estabelece nesse momento com o filho que vai entrar na vida deles é fundamental.

Contar para o filho adotivo a história de sua chegada pode ser um momento tão encantado como é quando os pais contam ao filho o quanto ele foi desejado. Pena que muitos pais não o façam. Quando essa ferida é ocultada por muitos anos, ficará mais difícil para o filho adotivo lidar com ela. A ocultação revela, em primeiro lugar, a ferida dos pais, mostrando que eles não souberam lidar com ela.

Uma revelação desse tipo na idade adulta costuma ser traumática. A situação piora para quem casualmente descobre ser filho adotivo. É como se toda a história de vida fosse
envolvida por uma mentira. Uma dúvida passa a pairar sobre tudo o que é significativo na sua vida. Mesmo tarde, é sempre melhor que os pais contem a verdade. Embora isso acarrete algum sofrimento, será um alívio para todos. Nada melhor do que mostrar que a adoção foi desejada e motivo de felicidade para os pais. Geralmente, o motivo para se ocultar a adoção é o medo de que o filho procure os pais naturais. Trata-se de uma curiosidade legítima á prejudicar o afeto que o filho sente pelos pais adotivos. Talvez o encontro com os pais naturais seja até necessário para superar o sentimento de rejeição que possa existir, apesar do amor dos pais adotivos.

Conhecer os pais naturais poderão, de fato, elaborar as fantasias (que, como toda fantasia são extremamente reais do ponto de vista psíquico)  de rejeição.

ROBERTO GIROLA (PSICANALISTA TERAPEUTA FAMILIAR)

REVISTA DE APARECIDA - DEZ/2012
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