O tempo do Advento e o tempo
da Quaresma fazem um forte chamado à conversão, não obstante cada um tenha
enfoque próprio porque “embora se insista na conversão, o Advento não tem o
mesmo sentido penitencial da Quaresma. Tem mais o sentido de prepararmos, alegres
e esperançosos, o caminho do Senhor que vem. (...) Certamente, a nossa
conversão acontece com altos e baixos. O Advento é tempo próprio para retornar
ou recomeçar.” Dessa maneira, a espiritualidade do Advento convida os fiéis à
conversão, na medida em que os coloca diante das exigências concretas de
vigilância e oração que são alimentadas pela certeza da vinda do Senhor.
A liturgia do Advento tem
uma riqueza de linguagem messiânica muito grande, como se percebe,
especialmente, na profecia de Isaías, quando faz um chamado à conversão que
começa pela mudança no porquê do culto a Deus e no modo de oferecê-lo. Com
efeito, ensina o profeta Isaías que Deus detesta cultos vazios de sentido por
não serem senão mera formalidade. O verdadeiro culto passa pela mudança de
coração, de sentimentos, pela mudança de conduta, de atitudes. (cf. Is 1,
11-18)
Por ser essencialmente
comunitária, a liturgia do Advento tem presente a realidade da Igreja que, em
sua condição peregrina, também necessita da graça da conversão, da conversão
pastoral. “Examino a minha disponibilidade concreta para a conversão, tanto
pessoal como pastoral. Com a graça de Cristo, opto pela mudança de tudo aquilo
que, pessoalmente, me afasta dele e dos irmãos; e pela mudança dos ‘modelos
pastorais’ que não provocam a adesão à fé em Jesus. Todos precisamos de uma
conversão pessoal e pastoral, que implica uma escuta atenta e o discernimento
daquilo que o Espírito diz às Igrejas, através dos sinais dos tempos.” Fala-se,
apropriadamente, de conversão pessoal e de conversão pastoral. Na verdade, a
conversão pessoal fala de mudança na vida de um fiel, de um animador, de um
agente da evangelização. A conversão pastoral implica mudança no modo de ser e
de agir da Igreja, como corpo, em sua ação missionária. Tendo-a definido o
Concílio Vaticano II como “povo de Deus”, a Igreja deve passar por um contínuo
processo de conversão.
O tema da conversão é tão
antigo quanto a Revelação divina que aconteceu na Antiga e na Nova Aliança. Por
sua vez, o tema da conversão pessoal sempre esteve presente na espiritualidade
da Igreja, na mística e na ascese de muitos santos e santas. De sua parte, o
tema da conversão pastoral é mais recente. No continente latinoamericano, a
referência mais próxima está no Documento de Aparecida: - “A conversão pastoral
de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação
para uma pastoral decididamente missionária.”. No Brasil, está destacada no
Documento da CNBB – “Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia”: - “A conversão
pessoal e a pastoral andam juntas, pois se fundam na experiência de Deus que as
pessoas e as comunidades conhecem.” Está muito acentuada na palavra do Papa
Francisco: “A Conversão Pastoral diz respeito, principalmente, às atitudes e a
uma reforma de vida. Uma mudança de atitudes é necessariamente dinâmica: “entra
em processo” e só é possível moderá-lo acompanhando-o e discernindo-o.”
É necessário que cada fiel e
que toda a Igreja vivam o tempo do Advento no cultivo da conversão pessoal e
pastoral.
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares (PE)
Fonte: http://www.cnbb.org.br/articulistas/dom-genival-saraiva-de-franca/13307-2013-12-09-13-07-05
Bispo de Palmares (PE)