São
Lucas, que se pode chamar “o evangelista do coração”, tem páginas que tocam
profundamente o coração da gente. É ele que conta a parábola do filho pródigo,
a conversão do publicano Zaqueu, da pecadora
Madalena e do ladrão crucificado ao lado de Jesus. Narra também vários fatos da
infância de Jesus e coroa a história dessa infância, narrando o episódio da
peregrinação a Jerusalém, quando o Menino se afastou da comitiva e só foi
encontrado três dias depois, no Templo, encantando aos doutores com suas
perguntas e suas respostas. As mães são aquelas que mais vivamente percebem a
dolorosa beleza dessa página. Principalmente se é alguma mãe que teve a triste
experiência de um filho afastado de casa, sem ela saber o paradeiro. Um
sequestro talvez! Curiosamente isso acontece às vezes em romarias, como
aconteceu com Maria e José nessa peregrinação ao Templo.
A
Liturgia nos faz ler este episódio na Missa deste domingo depois do Natal, que
é dedicado a celebrar a Sagrada Família. E muito sabiamente! Muito
pedagogicamente! Porque nesse episódio aparecem de maneira muito viva os
valores da família: a dedicação e a responsabilidade dos pais, o tesouro que é
um filho, a religião na família, o deixar-se guiar pela vontade de Deus,
manifestado de maneira tão sublime nas palavras do Menino Jesus: “Não sabíeis
que eu me devo ocupar nas coisas de meu Pai?” (Lc
2,49). São Lucas registra que Maria ia guardando a lembrança de todas essas
coisas no seu coração (Ibid., v 51).
Ficou
muito bem ter a Igreja colocado dentro das comemorações do mistério do Natal
esse olhar para a Sagrada Família. Jesus quis passar por essa experiência. Não
apareceu de repente já adulto, pregando ao povo. Como assinalou elegantemente o
Papa Leão XIII, o divino Sol da justiça, antes de iluminar o mundo com a
plenitude do seu esplendor, quis brilhar suavemente entre as paredes de um lar:
a humilde casa de Nazaré. Aí nós encontramos o amor, a fé, a harmonia, o
trabalho, a humildade. E podemos adivinhar a edificação e a presença serviçal
que dessa casa se irradiavam para a vizinhança. Era como se uma estrela tivesse
baixado à terra para iluminar de perto a pequena aldeia da Galileia. A família –
realidade tão sagrada! – tem sido muito agredida pela mentalidade materialista
e hedonista dos tempos que estamos vivendo. A Igreja vê tudo isso com
apreensão. E sabe que grande parte dos males da sociedade tem sua raiz na falta
da família ou na família desajustada. Falta a preparação para o casamento,
falta a seriedade do compromisso conjugal, falta o empenho para fazer de cada
lar um ambiente de amor e de harmonia. Há muita família desajustada pela falta
de recursos, por essa pobreza extrema que leva tanta gente ao desespero. Mas há
também muita família desajustada, na qual não faltou o dinheiro, mas faltou o
amor, faltou a coragem, faltou a fé. É mais do que sabido que com o dinheiro se
constrói uma casa, até grande e luxuosa; mas com nenhum dinheiro deste mundo se
constrói um lar. O lar é feito de valores mais altos, esses valores exatamente
que o materialismo vai destruindo. Há muitos jovens por aí que tomaram caminhos
desviados, não porque Ihes tivesse faltado em
casa dinheiro e conforto; mas porque Ihes
faltou a sensação de que eram realmente amados. Eles também – é claro! – podem
ter contribuído para isso, influenciados, talvez, por maus exemplos. O problema
é frequentíssimo em casais divorciados! E a escola do divórcio está aí abrindo
suas portas escancaradamente, sobretudo, através das luzes e das cores das
telenovelas. Quanta responsabilidade!
O
Concílio Vaticano II, na sua maravilhosa constituição sobre “A Igreja no mundo
de hoje” -”Gaudium et Spes” – se estende
ricamente sobre o problema da família. É preciso que os casais estudem esse
documento. E aí aprenderão as melhores lições sobre o amor conjugal –
gloriosamente ordenado à procriação de filhos -, sobre a educação da prole,
sobre o lar como Igreja doméstica e escola de fé, sobre a família como primeira escola das virtudes
sociais e como célula vital da sociedade, da qual, portanto, depende a saúde do
corpo social.
Que
a humilde casa de Nazaré ilumine com as luzes de seus sublimes exemplos cada
família deste nosso planeta enlouquecido! E que as crianças cresçam em estatura
e graça como Jesus, diante de Deus e dos homens”. Deus tem um propósito de
crescimento para ti e para os teus filhos também.
Espírito
que orienta nossa vida para Deus, ajuda-me a crescer cada dia, em sabedoria e
graça, buscando como Jesus adequar minha vida ao querer do Pai.
Padre Bantu Mendonça K. Sayla
Retirado de
www.cancaonova.com