Dia 2 de novembro
celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que
estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que
chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não
estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam
venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo
costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a
morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero pensando que
tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente.
Os pagãos chamavam o local
onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos
inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que
dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que
nos
precederam com o sinal da fé e dormem no sono da paz”.
Os santos encaravam a morte
com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico
do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual
nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal. Felizes dos
que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade. A estes não fará mal
a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S. Agostinho
nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde,
e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições nos dá a
morte. Assim nos aconselha o Apóstolo São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos
o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro...
Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o
que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam
como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se
alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os
que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo
passa” (1 Cor 7, 29-31).
Diz o célebre livro A
Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e
ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o
encontre!... Não confies em amigos e parentes, nem deixes para mais tarde o
negócio de tua salvação; porque, mais depressa do que pensas se esquecerão de
ti os homens. Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las
adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imit. I, XXIII). O dia
de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no
esquecimento.
Três coisas pedimos com a
Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio
para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas que é o
inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos
precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém
Dom Fernando Arêas
Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney