Precisamos pedir também para nosso povo saber
eleger quem tem essa mesma sabedoria. Quem se coloca como candidato para
administrar, legislar e exercer a justiça humana precisa de dons para exercer
os cargos acertadamente, conforme a ética e a moral. Dessa forma servirá o povo
a quem deve prestar contas, como empregado ao patrão. Um dia também vai prestar
contas a quem lhe deu o dom da liderança para ser agente de justiça e promoção
do bem comum. Não se servirá do povo para tirar vantagens para si em detrimento
do que é do bem público. A justiça será exercida dentro dos parâmetros da
promoção do que é adequado para reinarem o direito, a promoção da vida e do bem
individual e coletivo. Não será a justiça baseada estritamente no papel e na
arte de enganar ou de desviar-se da lei. Não se esconderá a verdade nem se
protelará o veredicto, injustiçando-se as pessoas já lesadas em seus direitos e
pleitos.
Formar a mentalidade do exercício do mandato
com o ideal de servir é fundamental na
ordem social. A própria fé, voltada para
a prática do amor, da justiça e da promoção da cidadania é de vital
importância. Ao contrário, torna-se como a árvore que não dá fruto.
Hoje precisamos muito de fazer realçar
valores maiores do que o uso de cargos para o enriquecimento de modo ilícito.
Os valores da grandeza de caráter, de luta pelo ideal de servir, de promover a
vida, a dignidade humana, a inclusão social e o exercício da liderança na
promoção da cidadania, são muito maiores do que apenas ter e mostrar riquezas e
benesses materiais e curriculares. A benemerência social é muito mais
gratificante para quem tem a cultura do valor da vida e do trabalho em bem do
semelhante do que o olhar para interesses egocêntricos e de bem estar material.
Na resposta a Deus sobre o dom da vida nos
sentimos com a consciência limpa quando utilizamos nossas capacidades de
liderança e oportunidade de sermos eleitos a algum cargo para fazermos o melhor
de nós à comunidade. Compreendemos então o que o apóstolo Paulo fala a respeito
de quem é agraciado pelo chamado de Deus: “E aqueles que Deus predestinou,
também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou
justos, também os glorificou” (Romanos 8,30). É gratificante, para quem tem
retidão de consciência, saber que está no caminho indicado por Deus, para a
realização da justiça no próprio cargo!
O exercício de um cargo é realizador para
quem o faz como se descobrisse um grande tesouro, que preencheria a sede de
viver, por assumi-lo com muito amor ao povo e a Deus. É um meio de buscar o
tesouro do Reino de Deus, como o encarou o próprio rei Davi em relação à missão
que Deus lhe deu. Jesus fala do tesouro escondido do reino dos céus (Cf Mateus
13,44-52). Quem administra a vida com os critérios dele, como no caso de cargos
no serviço ao bem público, está na direção de quem vai adquirindo tentos para o
alcance desse Reino!
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Fonte: http://www.cnbb.org.br/outros/dom-jose-alberto-moura/14620-capaz-de-governar