No dia 15 de agosto,
hoje, celebramos a Assunção de Nossa Senhora. Tenho um grande carinho por este
dogma, pois minha mãe nasceu na véspera da festa da Assunção e se chama Maria
da Glória. Nasci e vivi minha infância na cidade de Brusque, em Santa Catarina,
onde temos o santuário de Azambuja, que celebra todos os anos com grande
solenidade a festa da Assunção.
O
papa Pio XII, em 1950, definiu como dogma de fé que, terminado o curso da sua
vida terrena, Maria foi “elevada” ou “assumida” de corpo e alma na céu da
Ladainha. Alguém poderia questionar o sentido dos quatro dogmas: virgindade
perpétua, maternidade divina, imaculada conceição e assunção. De modo algum é
uma forma simplória de elogiar Maria. Ela não foi escolhida por seus méritos,
mas pela graça de Deus.
Os
dois primeiros dogmas, mais antigos e claramente bíblicos, indicam a natureza
de Jesus Cristo e garantem a verdade fundamental da salvação. Dizer que a
“virgem” Maria concebeu do Espírito Santo significa professar a fé na divindade
de Jesus. Nele o “Verbo se fez carne” (Jo
1,14). O céu assumiu definitivamente a terra.
Mas,
para que não reste dúvida da inseparabilidade da divindade e da humanidade de
Jesus, dizemos que Maria é “Mãe de Deus”, ou seja, é Mãe do Cristo todo, pois
nele não existe um departamento humano e outro divino. Os dogmas da “imaculada”
e da “assunção” são bem mais recentes. Eles se referem à origem e ao destino da
humanidade. Maria é ícone do povo de Deus. Olhando para ela, vemos nossa
identidade como em um espelho. Ela foi imaculada. Essa é a nossa origem.
No
princípio, era a santidade original. Somente depois veio o pecado original. Um
dia, no céu, seremos santos e imaculados. Todos nós queremos ser assumidos no
colo de Deus. Cada um terá a sua própria “assunção”. Temos que superar aquela
visão simplista de Maria sendo elevada por anjos para além das nuvens. Por uma
questão de delicadeza teológica, a Igreja evita responder à pergunta se Maria
morreu ou não. Na verdade, desde tempos muito antigos, os cristãos festejavam a
festa da “Dormição de Maria”. Prefiro a
tradução de “assunção” como aquela que foi “promovida” ou “assumida”.
Alguém
me perguntou se o dogma da assunção tem fundamentação bíblica. O Magnificat é fundamento
suficiente: “Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque
realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso” (Lc 1,47-49).
Assumir
Maria no céu foi a última das grandes maravilhas que Deus fez na vida de Nossa
Senhora. Aquela que foi concebida sem pecado e viveu cheia de graça só poderia
receber o “prêmio da coroa eterna”. Mais adiante, o canto de Maria dirá que
Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc 1,52). Esta
“elevação” é o sentido próprio da assunção.
Todos
nós devemos viver essa mística no nosso dia a dia. Somos chamados a promover as
pessoas, a praticar a solidariedade e a promoção humana. Muitos vivem num
verdadeiro inferno de dor, sofrimento, fome, injustiça, pecado. Os pobres
esperam a mão solidária que os eleve. Jesus disse que quem pratica essas obras
de misericórdia, ou de promoção humana, será acolhido no abraço definitivo, no
reino dos céus (Mt 25).
Os
dogmas não são apenas de Maria. Eles revelam a identidade de Cristo e a face de
cada um de nós. Como disse Santo Ambrósio: “Esteja em cada um a alma de Maria a
glorificar ao Senhor, esteja em cada um o espírito de Maria a exultar em Deus;
se, pela carne, uma só é a Mãe de Cristo, pela fé todas as almas geram a
Cristo: cada uma, de fato, acolhe em si o Verbo de Deus” (Exp. Ev. Sec. Lucam, II, 26).
Maria
é sinal de esperança, é estrela da manhã que precede o sol nascente, a luz que
do alto que veio nos visitar. Vamos assumir Deus e promover os irmãos, e Deus
nos assumirá e nos promoverá ao Reino do Céu.
Rainha
assunta ao céu, rogai por nós!
Pe. João Carlos de Almeida, scj (Pe. Joãozinho)
Revista Ave Maria – Ano 114,
Agosto de 2012
Editora Ave Maria