“Alguém da capital vai até o interior e,
vendo famílias com muitos filhos, pede aos pais uma das crianças. Os pais,
pensando que vai ser bom para a criança, permitem. Assim, começa o tráfico de
pessoas e a exploração do trabalho.”
O fato foi contado como exemplo pela
professora Tania Teixeira Laky de Sousa, pós-doutoranda do Núcleo de Estudos
sobre Identidade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da
PUC-SP, que ministrou a aula inaugural do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Teologia, na quinta-feira, 27, no campus Ipiranga.
O tema escolhido foi o mesmo da sua tese de
doutorado, usado também na elaboração do Texto-base da Campanha da Fraternidade
2014: “Tráfico Internacional de Mulheres – nova face de uma velha escravidão”.
A estimativa é de 32 milhões de pessoas
traficadas, somando o segundo negócio mais rentável do mundo, perdendo apenas
para o tráfico de drogas. Em terceiro lugar está o tráfico de armas. Estima-se
que 4,5 milhões são exploradas em atividades sexuais forçadas. Já em relação à
exploração do trabalho infantil, por exemplo, estima-se que, para cada 10
crianças no Brasil, 1 é explorada. São 860 mil crianças, de 7 a 14 anos
empregadas no Brasil, este número corresponde àqueles que estão destinados a
trabalhos forçados.
“É um crime silencioso, pois muitas vítimas
não denunciam. Será uma invisibilidade ou um cinismo social? O crime organizado
lembra a velha escravidão. Há rotas e agentes do tráfico e uma evolução do
quadro legal do crime organizado”, explicou Tania.
A Professora explicou também as concentrações
da rota do tráfico no Brasil, a partir de um estudo realizado em 2012. No Norte
são 76 rotas; no Nordeste, 69; no Sudeste, 35; no Centro Oeste, 33, e no Sul,
28. Ela ressaltou as características desse crime, como a ampla estrutura e
sofisticado meio, documentos falsos e lavagem de dinheiro.
“Foram detectadas 241 rotas. Sendo 110
relacionadas ao tráfico interno e 131 ao tráfico transnacional. Quando eu
trabalhei nas fronteiras, analisando o tráfico, vi muitos casos. Nas fronteiras,
sobretudo, os tráficos de armas, drogas e humano convergem”, disse.
O Brasil é origem e destino de tráfico de
pessoas. Tania explicou que presenciou, em Santa Catarina, prostíbulos com
mulheres latino-americanas. “Elas eram recrutadas no Paraguai e convidadas a
trabalhar como camareiras ou domésticas, e, ao chegarem ao Brasil, caíam nas
mãos do tráfico organizado. O tráfico de pessoas é uma vergonha para as nossas
sociedades que se dizem civilizadas”, disse Tania, lembrando a frase do papa Francisco.
Fonte: http://www.arquidiocesedesaopaulo.org.br/noticias